terça-feira, 28 de agosto de 2007

O velho problema da xerox

No último sábado eu vi uma reportagem do Jornal Nacional falando sobre a ação das editoras contra a prática tão comum nas universidades de se usar xerox de textos para as aulas. Parece que dessa vez vão mesmo pôr um fim na festa dos que ganham uma boa grana com xerox nas universidades. O problema é que os alunos que como eu não têm a mesma facilidade para comprar livros também podem sair prejudicados por essa ação. A questão dos direitos autorais já havia sido discutida aqui num tópico anterior em que afirmei ter lido na internet o novo livro da série Harry Potter. É claro que reconheço como justo que quem investe na criação e publicação de um livro tem todo o direito de não ser esbulhado por cópias clandestinas; na verdade, eu sempre preferi encontrar na biblioteca o livro que contivesse o texto recomendado pelo professor. O grande problema é que as nossas bibliotecas estão com um problema sério de acervo e são raras as vezes em que eu consigo encontrar um livro que procuro para as minhas leituras acadêmicas. As editoras dizem que querem resolver o problema vendendo trechos de livros nas universidade, de certa forma, elas estarão assumindo o papel que era das xerox que existem, mas preservando os seus direitos autorais. O sujeito que vi sendo entrevistado disse que pretendem não onerar os alunos, mas é difícil levar essa promessa a sério. Da minha parte, acho que os alunos vão ter que encontrar opções para o caso das editoras serem bem-sucedidas em seus planos. Pressionar a universidade para investir mais no acervo das bibliotecas e garantir que a aquisição de novos livros esteja em sintonia com o que os professores exigem de nós é uma das idéias que tenho. É claro que se trata de medida de médio e longo prazo, a curto prazo acho que uma idéia seria criarmos um banco de xerox nos DAs para ajudar quem estivesse em dificuldade de conseguir material. Uma coisa é certa, não dá para nós alunos ficarmos parados diante dessa nova situação que está se apresentando.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

De volta às aulas na UFF

Na próxima semana começam oficialmente as aulas na universidade, normalmente é nessa primeira semana que é feita a calourada, embora essa tradição esteja sendo desrespeitada nos últimos semestres por aqui. Quando eu entrei a minha calourada foi muito fraca e não houve nenhuma preocupação dos que a fizeram em mostrar o que realmente estava acontecendo na universidade, os seus problemas e o que esta tinha a oferecer; eu já tinha dito numa postagem anterior que só fui descobrir o laboratório de informática da História um mês depois e que foi uma professora quem me indicou. Espero que a calourada desse semestre seja melhor que a dos últimos tempos, pelo menos eu vou tentar dar minha contribuição para isso.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Grupo de estudos na reitoria

Como já afirmei aqui eu estou participando da ocupação da reitoria da UFF, numa luta que faz parte de todo um processo que envolve a luta por assistência estudantil na universidade. Como forma de dar maior relevância àquele espaço nós criamos um grupo de estudo nos fins de semana. No último sábado iniciamos esse grupo de estudo com um texto que fala da participação de Marx e Engels na criação da Primeira Internacional dos Trabalhadores. Ao lado e em baixo vão algumas fotos do evento, que pretendemos fazer a cada 15 dias.



















O que queremos mesmo é transformar aquele espaço num lugar de discussões sobre a sociedade em que vivemos e como a universidade está inserida dentro dela. É importante entender que a universidade não pode mais ignorar a realidade à sua volta bem como o seu papel na construção de uma sociedade melhor.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Estudar e trabalhar/estudar ou trabalhar

Eu estou a dois anos e meio na UFF e sinto que fiz a escolha certa ao privilegiar os estudos e abrir mão de dividi-los com um trabalho. No entanto, não é fácil ter que conviver com o apertado orçamento que me é imposto pela bolsa de extensão que tenho. Isso fica ainda pior quando o pagamento da mesma atrasa, como está acontecendo agora. Ainda assim, creio que foi a melhor escolha, é claro que nem todos os estudantes da minha condição sócio-econômica poderiam se dar a esse luxo. o fato de não ser casado e não ter filhos para sustentar ajuda bastante. A minha família também tem sido muito importante, na verdade, tem sido desde o início e eu não teria chegado aqui sem o seu apoio. Com tudo isso, ainda ficam as dificuldades que essa minha opção me impõe. Eu certamente estaria ganhando mais dinheiro se estivesse trabalhando, mas sei que meus estudos seriam prejudicados. Sei até que poderia conciliar a universidade com um trabalho, afinal foi o que fiz no caso do meu Ensino Médio. Entretanto, eu sei que não poderia ter aproveitado a universidade da mesma maneira que pude aproveitar durante esse período e sei muito bem como isso influiu positivamente na minha formação atual. O ideal é que todos os estudantes pudessem dedicar-se aos estudos sem a preocupação financeira nas suas costas, mas infelizmente nós não vivemos no mundo ideal e sim no mundo real. Portanto, muitos estudantes, e o meu caso está longe de ser o mais grave, são obrigados a constantemente terem a preocupação dividirem a necessidaade de ganhar dinheiro com os estudos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Para que serve a Universidade?

Para que serve a Universidade?

Eu tenho lido diversas opiniões a respeito da razões de ser de uma universidade. É certo que sua função variou ao longo dos séculos de existência dessa instituição. Hoje em dia há um novo debate a respeito de sua utilidade num mundo que vem mudando cada vez mais rápido e que exige das pessoas uma agilidade e uma multiplicidade de capacidades que muitos acreditam só serem possíveis de desenvolver numa universidade. Dentro da atual ideologia liberal, em que a capacidade de sobreviver num meio cada vez mais competitivo, se torna uma exigência cada vez mais premente, o papel da universidade parece ser destinado a ser apenas um de uma formadora de mão-de-obra qualificada para o mercado. Nas diversas discussões sobre o papel da universidade um dos motes preferidos daqueles que combatem políticas de assistência estudantil é o de que a Universidade tem como função formar a elite de um país e não de resolver os problemas sociais existentes. Certamente que o papel de formar gente qualificada para os desafios do mundo moderno não pode ser esquecido por uma universidade, mas é preciso também procurar entender como essas pessoas vão se inserir na sociedade e qual o papel delas na mesma. Com certeza uma universidade tem como função principal construir um conhecimento que permita as pessoas entenderem qual o papel delas na sociedade e como podem colaborar para a sua melhoria. De que valeria todo o conhecimento desenvolvido numa universidade se este fosse usado em benefício de uma pequena minoria da sociedade em que essa universidade está inserida? Porque formar pessoas qualificadas, mas com nenhum compromisso de devolver a sociedade pelo menos parte dos benefícios e conhecimentos que adquiriu durante o seu tempo numa universidade? Querer transformar a Universidade num mero apêndice do mercado é empobrecê-la; é rebaixá-la de uma instituição formadora dos melhores quadros de uma sociedade e fazer dela um mero "setor de treinamento", a serviço das grandes empresas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Discutindo sobre arte no acampamento

Há dois dias eu estava no acampamento com dois amigos, Sandro e Mariana, que também fazem o curso de história na UFF. Após eu falar sobre um fato ocorrido numa das minhas últimas aulas do período nós três começamos uma discussão sobre o significado da arte e sua relação com a ciência. Segundo a visão do Sandro não havia grandes diferenças entre arte e ciência, no que eu e Mariana discordamos. Foi uma discussão interessante onde colocamos algumas questões interessantes em pauta ao mesmo tempo em que constatamos que muitos estudantes tinham problemas em debater esses assuntos fora de aula, como se as horas de lazer devessem ser gastas apenas com assuntos banais. A verdade é que eu refleti bastante sobre esse assunto e hoje eu diria que se fosse discuti-lo de novo manteria minha posição de que arte e ciência estão em lados bem diferentes. Eu vejo a arte como algo que não é igual para todos. Na minha opinião a arte pode ser identificada a partir de quatro principios básicos: 1 - é uma criação individual. 2 - é uma criação inicialmente desinteressada. 3 - a arte nasce a partir da inspiração de uma pessoa. 4 - a arte não tem como objetivo final uma identificação com a realidade. Sem esses principios o que se chama de arte para mim é apenas um produto. Dessa forma, o que pode inicialmente ser considerado arte pode se tornar um produto a partir de determindado tempo. Da mesma forma, o que é arte para alguns pode ser produto para outros. Quando um artista está escrevendo um livro, compondo uma música, pintando um quadro, ou algo assim, está fazendo arte, mas quando esta fica pronta e o artista, junto com muitas outras pessoas começam a ganhar dinheiro como ela, aí deixa de ser arte para essas pessoas, incluindo quem a criou, e vira um produto. É claro que o produto pode voltar a ser arte se for apreciado de forma desinteressada por alguém, mas aí é caso para uma discussão teórica que eu não tenho embasamento para fazer.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Dilemas de um estudante

Quando entrei na universidade eu estava decidido a manter o mesmo sistema que me fez concluir o ensino médio, ou seja, trabalhar de dia e estudar a noite. Logo eu percebi que isso não seria possível se eu quisesse fazer uma universidade com qualidade. Esse é o dilema de muitos estudantes como eu, pois nem todos dispõe de um sólido apoio financeiro da família para estudar. Eu tenho consciência de que poderia estar com uma renda duas vezes maior do que eu tenho atualmente, mas foi uma escolha consciente de quem pesou os prós e contras de cada situação e optou por se dedicar integralmente a universidade. É claro que isso não seria possível sem o apoio que a minha família dá nesse sentido. A minha contribuição para as despesas praticamente se reduz a pagar a conta do telefone, que de resto está no meu nome. Além disso eu ainda me lembro dos meus primeiros tempos na universidade, antes de eu conseguir uma bolsa de estudos, onde por várias vezes tive que recorrer a um dos meus irmão para poder bancar a minha passagem. Sem a família fica praticamente impossível para alguém com a minha origem sócio-econômica se manter numa universidade sem recorrer ao sistema do trabalho de dia e estudo a noite. No entanto, eu fui uma das pessoas que teve a sorte de encontrar na família um apoio forte para se manter na universidade. Outro dilema que temos que enfrentar é participar da vida política da universidade. Muitos estudantes pobres como eu acabam abdicando disso em favor de um dedicação exclusiva aos estudos na suposição de que é o melhor caminho para sua vida. Cedo eu vi, no entanto, que os interesses dos estudantes mais pobres só podem ser bem defendidos por esses estudantes, uma pena que por enquanto eu e mais alguns poucos sejamos mais excessão do que regra aqui na UFF. É claro que a desconfiança que muitos desses estudantes mais pobres tem da política é plenamente justificável, mas isso não significa que tenhamos que ficar de lado e deixar que nossos interesses seja defendidos por quem não os vê como natural prioridade. Eu ainda espero estar aqui na UFF quando a grande maioria dos estudantes mais pobres da universidade tiverem consciência disso.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

As portas que a universidade abre

Ao entrar na UFF eu não tinha a menor idéia do que eram conceitos como "capital cultural" e "capital social", no entanto, hoje eu não só sei sobre ambos como os experimentei na prática. Em termos de capital cultural, até entrar na UFF, eu tive que construir o meu sozinho, pois na minha família eu era a pessoa mais capaz disso. Tive que buscar informações por conta própria, seja em livros, revistas, jornais ou na internet. Ao chegar à UFF eu pude ver o quanto eu teria que melhorar nesse sentido. Foi aqui na universidade, por exemplo que eu tive o primeiro contato com Durkhein, foi depois de entrar para a UFF que eu pude ler autores como Marx ou Bourdieu. Eu sei que ainda estou muito longe do ideal, mas estou trabalhando nisso. Em relação ao capital social eu só pude entender as vantagens disso aqui na UFF. O fato de ter contato com pessoas com muito mais recursos do que eu foi fundamental para eu consegui me manter na universidade. Conseguir trabalho que me garantisse algum dinheiro a mais do que ganho com a minha bolsa de extensão foi uma das vantagens desse capital social que eu só poderia obter aqui na universidade. No caso do capital cultural, o fato de ter conhecido pessoas com muito mais acumulo de leitura e estudos me permitiu avançar muito, e a luta política na qual me envolvi desde o primeiro dia em que entrei na Casa do Estudante Fluminense e que prosseguiu após eu ser expulso com várias outras pessoas e que desembocaria no Acampamento Maria Júlia Braga: o quilombo do século XXI. Com certeza eu sei hoje que todas as agruras de dificuldades que enfrentei nos meus primeiros dias de universidade valeram a pena. Agora é tratar de aproveitar tudo o que a universidade tem me oferecido.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

universidade que não é para todos

Eu vi uma reportagem ontem sobre os estudantes que estão abandonando a universidade por falta de condições financeiras para permanecer nas mesmas. É a velha demagogia política de quem não quer mudar nada, mas apenas se construir politicamente em cima das necessidade das pessoas. De início eu até era favorável a programas como o Pró-Uni, mas hoje eu vejo que este está inserido no mesmo modelo de política que fez o casal Garotinho implantar o sistema de cotas na UERJ sem criar nenhum programa de assistência para os estudantes que entrariam por ele. É o velho modelo populista que confunde medidas assistencialistas de curto prazo com mudanças estruturais de verdade, que exigem políticas de longo prazo, que vão bem além da próxima eleição. Algum tempo atrás foi noticiado que nehuma escola foi construída durante o governo de Dona Rosinha, isso ilustra bem o interesse deles pela educação, apenas uma ferramenta de demagogia política. O governo Lula não fica atrás ao garantir um extraordinário subsídio financeiro a algumas das piores universidades privadas do país. O fato é que políticas de ações afirmativas como as cotas devem ser encaradas como são: programas emergenciais de curto prazo e que não vão resolver sozinhas um problema de tanto anos. Sem uma política séria de incentivo à Educação Pública não sairemos do lugar. No entanto, quero deixar bem claro que não me estou referendando as críticas de quem é contra as cotas e adora usar esse argumento para justificar isso. Muitas dessas pessoas, por exemplo, só começaram a falar em investimento na Educação Pública depois que a questão das cotas começou a ser posta em discussão e até mesmo em prática, como no caso da UERJ. Só o fato de ter obrigado algumas pessoas a fazer referência à necessidade de investimento na Educação Pública já faz valer a pena toda essa polêmica em torno das cotas. Entretanto, devemos estar atentos aos demagogos que estão mais interessados em se dar bem politicamente do que em resolver esse grave desnível social que existe no Brasil.