sábado, 29 de setembro de 2007

A questão do REUNI na UFF

Na última quarta-feira aconteceu a reunião do Conselho Universitário da UFF ( CUV ) para a discussão do REUNI. Esse projeto que o governo federal preparou para as universidades está causando uma grande polêmica no meio acadêmico universitário. Uma pena que essa polêmica não tenha chegado à sociedade em geral. A questão da universidade pública é algo que diz respeito a todos, inclusive àqueles que não conseguem entrar. Na verdade, essas pessoas são que não estão na universidade tem sido o principal argumento dos defensores do REUNI. Frequentemente os que se opõem ao projeto são acusados que estarem impedindo o que seria uma tentativa de universalizar o ensino superior no Brasil. De fato, o que está previsto no projeto é mesmo essa universalização, o problema é o tipo de universalização que estão querendo fazer. O que parece bem claro é que essa universalização está sendo feita do mesmo modo como foi feita a universalização do ensino básico no Brasil, ou seja, a partir de uma queda vertiginosa da qualidade do ensino público. Logo quando eu entrei na universidade eu já encontrei toda essa polêmica em relação à reforma unversitária; aos que se opunham a ela eu logo perguntei se eram contra a reforma universitária do governo Lula ou simplesmente contra qualquer reforma na universidade. Da minha parte, eu não tenho dúvida de que a Universidade precisa de uma reforma, pois tem uma série de problemas estruturais que precisam ser resolvidos. Durante o CUV eu ouvi um dos professores dizer que os privilégios existentes dentro do meio acadêmico precisam ser combatidos, eu concordo com ele, mas não concordo que esses privilégios sejam substituídos pela precarização prevista no REUNI. Eu quero que a Universidade seja reformada, mas que seja uma reforma que faça a Universidade trabalhar em prol da sociedade e não em prol do mercado.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Atualmente eu estou cursando duas disciplinas no meu sexto período aqui na UFF: Prática de Ensino I e Educação de Jovens e Adultos (EJA). A primeira é obrigatória para a minha licenciatura, mas a segundo eu estou fazendo porque me interesso por essa área. Na primeira eu estou tendo o meu primeiro contato efetivo com a realidade de uma escola pública. Esse primeiro contato tem ajudado bastante, pois tudo o que se ouve em debates sobre educação pública, nas salas de aula ou o que lemos, não é capaz de se comparar com o que eu já vi nas três primeiras experiências que eu tive. As dificuldades que um professore vai encontrar são enormes e a experiência que estou tendo certamente vai me ajudar bastante se eu seguir mesmo o magistério. Na última segunda-feira eu estive numa palestra com professoras que tratavam dessa questão que envolve a iniciação de graduando como eu na docência e de como era importante a universidade investir nisso. De fato, a idéia de que alguém só tome contato efetivo com a realidade de uma escola pública no seu primeiro dia de trabalho é absurda. Na verdade está sendo muito bom ter essas duas disciplinas no mesmo período, pois o que estou vendo em EJA está sendo muito útil para entender que as dificuldades que certamente vou encontrar caso venha a dar aulas em escola pública não sirvam de desculpa para me acomodar. Nessas horas é sempre bom recorrer a Paulo Freire, de quem já ouvi muitas críticas, mas que diz coisas fundamentais para quem quer se tornar professor; nesse caso específico, ele diz que as dificuldades encontradas não podem servir de desculpa para um professor não cumprir o compromisso que ele assume com seus alunos. Um professor dever lutar sim por melhores salários, por respeito à sua profissão, por melhores condições de trabalho, mas jamais dever usar a falta desses elementos como desculpa para se acomodar e não procurar oferecer o melhor de si aos seus educandos, antes mudar de profissão a ter que oferecer o que Paulo Freire chamava de "educação bancária". Eu não sei ainda se vou seguir a carreira no magistério, mas caso aconteça, vou me esforçar ao máximo para ser coerente com essa idéia.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

A polêmica do livro didático 2

Ontem eu conversei com uma de minhas professoras na universidade sobre o tal livro didático que está causando tanta polêmica. Como essa minha professora atua na área de educação eu fiz questão de levantar esse assunto com ela em aula. Para minha sorte ela tinha lido o livro e até prometeu trazê-lo para nós. A visão dela também não é muito favorável, embora as suas objeções não sejam pelos mesmos motivos que alguns dos principais críticos que tem escrito nos jornais como o Ali Kamel, por exemplo. Na verdade, em termos de ideologia eu arrisco a dizer que ele deve ter muito em comum com o autor do livro que ela também critica. No entanto, a crítica dela se dá a partir do fato que ela viu no livro muito mais uma propaganda de uma visão política sem que houvesse uma preocupação em oferecer ao aluno a oportunidade de confrontar essa visão com outras diferentes. De certa forma ela estava reafirmando a minha posição na postagem anterior ao me pautar na visão de Paulo Freire de que a educação nunca é neutra, mas que também não pode ser feita de verdades absolutas que são atiradas às pessoas sem que essa tenha meios de contestá-la. A minha professora também reclamou do estilo do livro que ela achou muito pesado para uma turma de ensino fundamental. Espero que ela realmente traga o livro para ser discutido em sala, acho que será bem interessante.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A polêmica do livro didático

Eu tenho acompanhado a recente polêmica envolvendo um livro didático de oitava série que tem sido considerado por alguns como propaganda política ao retratar certos acontecimentos históricos com uma visão diferente do habitual. No blog do jornalista Reinaldo Azevedo essa crítica tem sido bem mais ácida, com citações de trechos do livro em que seria feita o que o referido jornalista parece considerar uma apologia a chamada Revolução Cultural. O trecho mostrado parecia mesmo dar a impressão de que os eventos desencadeados pelo líder chinês Mao-Tsé-Tung tiveram como único objetivo livrar o povo chinês da tirania dos burocratas. Segundo o que li na primeira página de "O Globo", o livro chamaria Mao de Estadista, o que provavelmente o jornal consideraria um elogio indevido e que revelaria por parte do autor concordância como os atos do líder chinês. Lendo tudo o que foi escrito sobre essa polêmica é impossível não lembrar de Paulo Freire e sua afirmação de que a educação nunca é neutra. Certamente o autor do livro compartilha de muitas das idéias socialistas que serviram de base para a experiência chinesa, essas idéias com certeza estão presentes no livro. Eu não li a referido livro e não posso falar sobre a sua qualidade, nem sou um especialista em livros didáticos para atestar a qualidade ou não de um, ainda assim, eu vou dar o meu palpite: um livro didático para ter qualidade não deve buscar uma postura neutra em relação aos fatos históricos; acredito firmemente que Paulo Freire está certo quando diz que a educação não é neutra, criticar um livro didático e seu autor por ter uma posição assumida está errado. Acho que a qualidade de um livro didático está na sua capacidade de oferecer um ponto de vista ao aluno, mas permitir que este mesmo aluno tenha ferramentas necessárias para desenvolver o seu próprio ponto de vista, ainda que oposto. Um livro didático pode oferecer o seu ponto de vista, mas deve dar ao aluno o acesso a pontos de vista diferentes, isso pode ser feito a partir de uma bibliografia diversificada ou de outras maneiras. O que não dá mesmo é para tentar passar a impressão de que é possível ter um visão neutra da história e da educação em geral.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A prática de ensino na universidade

Depois de um longo tempo aqui estou eu de volta, de agora em diante vou me esforçar para não ficar tanto tempo sem postar. Vou falar sobre a minha primeira experiência efetiva numa escola pública, como parte da disciplina que estou cursando. Eu pude constatar de maneira clara uma parte dos enormes problemas que as pessoas enfrentam ao dar aula numa escola pública. De fato, não é fácil lidar com crianças que em princípio não parecem nenhum pouco dispostas a estudar, que ficam a maior parte do tempo em conversar paralelas, perturbam os poucos que parecem dispostos a prestar atenção na aula e não parecem ter muito respeito pela professora. Nessa aula que assisti havia pelo menos dois alunos especialmente problemáticos. É claro que tal situação sempre da margem para aqueles que não vêem salvação para o ensino público e para os que só querem pegar o seu no final do mês e pouco se importam com a solução dos problemas que afligem escolas como a que eu fui. Da minha parte o que eu vi só me fez convicto de que é preciso um esforço muito grande para a superação desses problemas. É claro que a ação do governo se faz necessária e tem que ser cobrada, afinal para que pagamos tanto imposto? No entanto, não podemos ficar na dependência da "boa vontade" de nossos governantes. A escola pública é de todos e cabe a todos a luta pela sua recuparação. De nada adianta a universalização do ensino sem que essa venha acompanhada da universalização da sua boa qualidade, entretanto, para que isso aconteça, é necessário que haja uma mobilização geral das pessoas. Eu vi naquela sala um monte de crianças com problemas, mas a escola não vai resolvê-los sozinha, é preciso que a família seja chamanda à participar. Creio que só como a união de Escola e Família, e aqui coloco-as com letras maiúsculas no início, pois entendo que são instituições fundamentais para garantir um ensino de boa qualidade para nossas crianças. A recuperação do ensino público tem que começar de baixo para cima, só assim poderemos superar todos os problemas que este tem enfrentado nas últimas décadas.

sábado, 8 de setembro de 2007

Autor a ser lido

Estou terminando de ler o livro "América Latina: males de origem" , de Manuel Bonfim. Fico imaginando o que deve ter sido a sua leitura no ano de sua publicação, 1905, ao ler aquelas páginas é de impressionar que um autor com aquela clarividência e coragem não fosse mais conhecido. Fico imaginando como tanta gente que tenta entender as razões de nosso atraso sem se deixar levar por teorias cheias de senso comum e que procuram esconder as suas origens racistas embasadas por um suposto liberalismo, ficam endeusando figuras como Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, mas deixam no esquecimeno alguém que bem antes deles já mostrava como as causas do nosso atraso estavam na maneira como nossa sociedade foi constituída desde o seu início. No livro de Bonfim temos o desmanche daquelas teorias pseudo-científicas que procuravam explicar o nosso atraso como culpa de nossa própria inferioridade racial. Bonfim faz picadinho dessas teorias, utilizando as armas do seu tempo. Este é um livro que eu faço questão de recomendar, não que não seja o produto do seu tempo e das limitações do mesmo; o prefácio de Darcy Ribeiro o mostra de modo claro, no entanto, é um livro que precisa ser descoberto e debatido, principalmente dentro da universidade. Nesse momento que estamos diante de questões importantes como a reforma universitária, o REUNI, as políticas de acões afirmativas, com ênfase nas cotas, e todos os debates que vem sendo feitos em relação ao acesso universal a uma educação de boa qualidade, o livro e as idéias de Manoel Bonfim é leitura obrigatória.