segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A polêmica do livro didático

Eu tenho acompanhado a recente polêmica envolvendo um livro didático de oitava série que tem sido considerado por alguns como propaganda política ao retratar certos acontecimentos históricos com uma visão diferente do habitual. No blog do jornalista Reinaldo Azevedo essa crítica tem sido bem mais ácida, com citações de trechos do livro em que seria feita o que o referido jornalista parece considerar uma apologia a chamada Revolução Cultural. O trecho mostrado parecia mesmo dar a impressão de que os eventos desencadeados pelo líder chinês Mao-Tsé-Tung tiveram como único objetivo livrar o povo chinês da tirania dos burocratas. Segundo o que li na primeira página de "O Globo", o livro chamaria Mao de Estadista, o que provavelmente o jornal consideraria um elogio indevido e que revelaria por parte do autor concordância como os atos do líder chinês. Lendo tudo o que foi escrito sobre essa polêmica é impossível não lembrar de Paulo Freire e sua afirmação de que a educação nunca é neutra. Certamente o autor do livro compartilha de muitas das idéias socialistas que serviram de base para a experiência chinesa, essas idéias com certeza estão presentes no livro. Eu não li a referido livro e não posso falar sobre a sua qualidade, nem sou um especialista em livros didáticos para atestar a qualidade ou não de um, ainda assim, eu vou dar o meu palpite: um livro didático para ter qualidade não deve buscar uma postura neutra em relação aos fatos históricos; acredito firmemente que Paulo Freire está certo quando diz que a educação não é neutra, criticar um livro didático e seu autor por ter uma posição assumida está errado. Acho que a qualidade de um livro didático está na sua capacidade de oferecer um ponto de vista ao aluno, mas permitir que este mesmo aluno tenha ferramentas necessárias para desenvolver o seu próprio ponto de vista, ainda que oposto. Um livro didático pode oferecer o seu ponto de vista, mas deve dar ao aluno o acesso a pontos de vista diferentes, isso pode ser feito a partir de uma bibliografia diversificada ou de outras maneiras. O que não dá mesmo é para tentar passar a impressão de que é possível ter um visão neutra da história e da educação em geral.

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