quinta-feira, 27 de março de 2008

REFLEXÕES SOBRE O REUNI


Um dos meus professores das disciplina pedagógicas obrigatórias que tenho de fazer no curso de História, ao fazer a crítica ao REUNI, disse que um dos maiores problemas do projeto era o de manter a mesma lógica de todas as reformas educacionais que já foram feitas antes no Brasil, ou seja, a idéia de que o ensino tem que ser dividido em duas partes: um ensino para formar uma elite letrada e outro ensino para formar a mão-de-obra para o mercado de trabalho. Essa lógica vem sendo adotada em todas as reformas que foram feitas desde os anos 1930; é uma lógica que sempre leva em conta as transformações econômicas da sociedade, em vez de priorizar a formação de uma população com capacidade crítica e de reflexão sobre a realidade à sua volta. No caso específico do REUNI, há uma clara relação com todo um projeto de governo onde a formação humana das pessoas é totalmente relegada a segundo plano em função das necessidades do mercado.

Quando eu vejo a defesa que algumas pessoas fazem do REUNI eu me pergunto como as pessoas podem achar que o tipo de universidade a surgir desse projeto pode ser realmente o tipo de universidade que esse país precisa. Um dos argumentos utilizados pelos defensores do REUNI é que este vai expandir o número de vagas no ensino superior. De fato, essa expansão está prevista no projeto, o problema é como essa expansão vai se dar e que tipo de universidade as pessoas vão encontrar quando entrarem nela. Quando se olha para as meta definidas no REUNI vemos o quanto as pessoas que o elaboraram estavam fora da realidade; a idéia de se ter um índice de 90% de taxa de conclusão ao fim de cinco anos e de se aumentar a relação professor/aluno sem atentar que cada curso tem dinâmicas totalmente diferenciadas em relação a essa questão dá uma boa idéia disso.

Atualmente o próprio governo Lula e os defensores do seu projeto têm procurado relativizar essa questão, mas o fato é que as metas estão lá e servirão de parâmetro para a aprovação de todos os projetos que forem apresentado pelas universidades. Outro problema sério é a total falta de garantias que mesmo as universidades que aderirem docilmente ao REUNI terão de que vão realmente receber as verbas prometidas, até agora o único real chamariz a motivar a defesa do projeto. No próprio projeto do REUNI, bem como no edital que foi lançado para a apresentação dos projetos, está bem claro que a liberação das verbas vai estar condicionada à disponibilidade orçamentária do MEC, isso num governo que é useiro e vezeiro em cortar verbas a seu bel-prazer, principalmente em áreas como a educação.

Outros pontos sobre o REUNI que são muito preocupantes para o próprio caráter público das universidades é que a criação da função de professor equivalente pode, e provavelmente vai, abrir caminho para a contratação de uma enorme quantidade de professores contratados. Um amigo meu que se formou em Matemática na UFRRJ em 2005, me disse que esse problema estava sério, a tal ponto que ele desistiu de uma disciplina eletiva ao perceber que o professor seria um ex-colega dele que se formara um pouco antes. A idéia das universidades contratarem professores sem vínculos mais fortes com a instituição teria como resultado transformar as mesmas em meros escolões de 3grau.

Na verdade, isto está até previsto no novo modelo de ensino superior que se prepara aqui no Brasil, é esse o princípio da chamada Universidade de Ensino, que seria diferenciada dos chamados Centros Tecnológicos, enfim, a idéia embutida na reforma de ensino superior do governo é criar alguns poucos centros de excelência para uma pequena elite enquanto teríamos um monte de escolões de 3grau, justamente para essa massa que os defensores do REUNI dizem que vai ser incorporada à universidade. certo que o Rio de Janeiro vai ter um desses centros de excelência, mas basta fazer uma pequena reflexão para concluir qual das quatro públicas federais vai ser e quais vão ser os três escolões.

Para concluir Barbara, podemos dizer que o governo Lula está seguindo a mesma lógica dos governos anteriores que fizeram reformas educacionais; está mais preocupado em formar mão-de-obra para um mercado que precisa de gente um pouco mais qualificada, mas ao mesmo tempo não quer deixar de ter a sua força de trabalho de reserva para negociar para baixo a questão salarial. Na outra ponta, por sua vez, continua com a lógica de reservar um ensino específico para uma pequena minoria privilegiada. a mesma lógica que criou as escolas públicas de ensino fundamental e médio que são ilhas de excelência no setor público, tipo D. Pedro II e as CAPs, onde estão concentrados alunos da classe média para cima, convivendo junto com as escolas públicas destinadas aos mais pobres, estas literalmente caindo aos pedaços. O REUNI é parte de um projeto educacional que, no entender de pessoas como eu, busca trazer essa lógica para o ensino superior.

justamente essa lógica que pessoas como eu está combatendo. Aqui na UFF estamos num embate terrível com a reitoria, por enquanto tudo o que conseguimos foi retardar a implantação do REUNI. Há uma movimentação para se construir um projeto autônomo, ou seja, fora dos marcos do REUNI, mas é uma tarefa difícil, pois mesmo entre os que são contra o projeto há uma clara divisão sobre qual a melhor maneira de impedir a sua implantação na UFF.

De qualquer forma Barbara, é preciso você entender que eu estou lhe dando a minha opinião sobre o que eu compreendi do projeto. Na verdade, eu nem me sinto com tanto acúmulo assim para fazer uma reflexão mais aprofundada sobre o REUNI, por isso mesmo eu te aconselho a procurar mais fontes de informações sobre o projeto. Entretanto fico feliz com o seu interesse, e espero que mais pessoas aí na RURAL também sigam o seu exemplo.


Beijos do Marcos.

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