quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Reflexões sobre a expulsão do Gragoatá - II

Por que defendemos o Fora Salles!?

Além dos argumentos já trazidos no corpo deste documento devemos relembrar que antes mesmo de cometer mais esta agressão ao nosso Movimento de Luta, a REItoria de Roberto Salles e Emmanuel já protagonizava ações análogas tais como o chamado da polícia federal contra a ocupação que promovemos na sede da REItoria em 2007 e na aprovação do REUNI. Para nós, dizer Fora Salles! equivale a dizer fora a FEC, os cursos pagos e a toda a estrutura de poder viciada e corrupta “organizativa” da universidade, a qual de tão hierárquica e elitista faz lembrar o Antigo Regime que tinha em sua dita Assembléia dos Estados Gerais uma fictícia representação dos interesses de toda a sociedade na França do sec. XVIII. De maneira semelhante o CUV, através de seus conselheiros, visa representar os interesses de “toda a universidade”, na prática, isso é impossível de ocorrer de fato. Se tomarmos como referência sua composição comprovaremos o seu caráter marcadamente elitista (é composto em 70% por docentes e até pouco tempo nem contava com o setor dos técnico-administrativos). Podemos considerar que o CUV é mantenedor da espiritualidade das “Assembléias” do antigo regime na França de Luís XVI, quando a nobreza e o clero votavam contra os interesses da plebe e da burguesia ainda ascendente que de tão débil ainda se confundia a este estrato social. O CUV representa a ficção de “democracia” que legitima a manutenção dos aspectos desiguais reinantes em nossa universidade e sociedade. Em uma conjuntura em que a luta de classes se manifesta de maneira cada vez mais aguda e explícita como a que estamos inseridos, reconhecer tal fórum de poder é o mesmo que se omitir das tarefas básicas para avançar no projeto de universidade e por conseguinte, sociedade que dizemos defender.

Os conselheiros de Roberto Salles no CUV são a correia de transmissão das políticas privatizantes no interior da UFF devendo ser por nós combatidos de maneira implacável. Estes têm produzido todo tipo de manobra para a manutenção do seu projeto degenerado de poder. Mesmo quando o movimento social organizado no interior da universidade consegue, através de duros embates, ter alguma proposição vitoriosa neste fórum, as mesmas não ganham materialidade, não passando de “lei para inglês ver”. Exemplos na história recente da universidade não faltam: foi assim quando da greve de 2005 o movimento grevista após forte repressão promovida pela PM a mando da REItoria de Cícero Fialho conseguiu arrancar no Conselho a proibição da entrada daquele órgão repressivo nos campi da UFF , resolução que na prática, nunca se efetivou. Também quando o ME durante a mesma greve após exaustiva campanha pelo aumento das bolsas viu sua proposta ser manobrada pelos burocratas da REItoria que diminuíram o seu tempo de duração. Nossa avaliação apresenta como modelo substituto a esta lógica viciada e degenerada, a institucionalização da Assembléia Comunitária, espaço que deve substituir o antigo Conselho Universitário como fórum máximo de deliberação na UFF.

Apesar da farta quantidade de argumentos que legitimam o mote por nós defendido, temos encontrado uma expressiva resistência por parte dos membros que compõe os diversos agrupamentos estudantis tradicionais da atualidade. As razões por estes apresentadas de tão frágeis acabam por ser risíveis e desnudam o que estes, de fato, tentam inutilmente ocultar, o temor que nutrem de que ocorra uma política de perseguição promovida pela REItoria de Salles contra as ditas “lideranças” do ME. Estes argumentam que, apesar de legítima, tal campanha, certamente, faria com que os calouros se antipatizassem conosco e fossem atraídos para a perspectiva apresentada pela atual gestão da UFF. Com o objetivo de fortalecer o frágil argumento, tais coletivos preparam debates sobre a falta de democracia e maneiras de restabelecê-la no seio de nossa universidade. Para nós, como já afirmamos anteriormente, o momento é de conscientizar a massa dos estudantes para a real situação que está posta e daí vale a pergunta: Alguma vez existiu de fato democracia em nossa universidade e sociedade?

Para responder a essa importante pergunta, nos valemos dos ensinamentos valiosos obtidos pelas coerentes correntes de pensamento oriundas do Socialismo Libertário para as quais só existirá, de fato, democracia quando a ordem desigual estabelecida em que estamos inseridos tiver sido varrida do seio de nossa sociedade e a mesma esteja edificada e organizada de maneira autogestiva. Não podemos promover debates sofismáticos sobre democracia tomando como parâmetro a maneira como esse termo é compreendido no interior de uma sociedade capitalista como é a nossa, a qual tem uma legislação que tem servido para confundir, historicamente, a real relação de permanente conflito entre os diversos interesses existentes entre as várias classes sociais. Inclusive a “justiça” burguesa tem sido cada vez mais desmoralizada na medida em que a mesma sempre se faz presente na hora de tornar legitima as ações arbitrárias em prol das classes dominantes como nos dois casos em que nós fomos vitimados. Até conseguirmos pôr abaixo a atual ordem social desigual nossas conquistas terão sempre um caráter transitório e estarão sobre permanente ameaça das forças hegemônicas e dominantes que têm historicamente se beneficiado de atual organização do poder constituído e gerado o conjunto de mazelas sociais presentes de maneira constante na vida de milhares de seres humanos que sobrevivem, dia após dia, ao regime de miséria e opressão existente no sistema vigente.

A recusa por utilizar a segunda parte do mote – O CUV não nos representa! – se justifica através da seguinte constatação feita por Ciro Flamarion Cardoso: “quem age na política em geral aceita as regras do jogo e não pode deslegitimar as instituições”. Ou seja, os setores do movimento social da UFF que se apresentam como oposição à REItoria, em realidade já estão tão submersos nas regras, oficiais ou escusas, do Conselho Universitário que negá-lo seria quase que uma auto-negação. Isto se torna evidente através das práticas de manobras que são promovidas por ambas as partes, tanto pela ala mais “progressista” como pela reacionária do CUV.Estes, apegados que são as por eles classificadas de “disputas de projeto” nos alcunham de “esquerdistas” por denunciar e combater tais espaços do poder dominante. Insistimos na necessidade de pôr abaixo essa nociva estrutura, que se vá todos! Para nós não há a menor possibilidade de instrumentalização daquele espaço a fim de contribuir para que as demandas do ME ou dos demais setores que compõem o movimento social na UFF sejam atendidas, pelo contrário, tal perspectiva só tem contribuído para manter a mente do coletivo por estes “representado” em um modelo decadente de organização do poder social, num permanente estado de “demência política alienante”. Como já desnudamos neste mesmo documento, praticamente todas as nossas demandas exigidas naquele conselho não foram materializadas. Frente a estas constatações observamos a extrema incoerência dos que reivindicam o debate sobre democracia mas continuam presos a atual estrutura de funcionamento da universidade. Hesitam em aderir ao nosso mote ainda que a negação do CUV em favor da substituição pela Assembléia Comunitária é uma proposta muito mais coerente para aqueles que defendem, ainda que no plano do discurso, um modelo socialista de sociedade.

O que aconteceu conosco na UFF é apenas um fragmento do que ocorre todos os dias com os grupos oprimidos nas diversas regiões do país e do mundo. Não podemos perder a oportunidade de contribuir, decisivamente, para dar início a remoção dessa estrutura podre e corrupta existente na UFF, assim como, em toda a nossa sociedade. Para aqueles coletivos estudantis que ainda se encontram vacilantes deixamos a seguinte frase do Meszáros “Um futuro adiado, na verdade, é um futuro negado”

O que entendemos por Assembléia Comunitária

Propomos a construção de uma Assembléia Comunitária. Por Assembléia Comunitária compreendemos muito mais que uma simples reunião de alguns segmentos e não se trata de um encontro de cúpula de entidades. Ela seria na verdade a garantia de que todo e qualquer membro da comunidade universitária poderá se manifestar, expor seus pensamentos e sua opinião em pé de igualdade com os demais. Teríamos que tomar todas as providências cabíveis para que, uma vez constituída, a mesma não se enveredasse por perspectivas burocratizantes em seu modelo de funcionamento. A proposta de Assembléia Comunitária que defendemos exclui, necessariamente, a representação por categorias e iguala todos os participantes da mesma que disporiam de direito a voz e voto. Desta forma, a política será não somente espaço “dos eleitos”, mas passará para a base o poder de decisão sobre os problemas e demais questões que a afetam em seu dia a dia. O modelo de representação por categoria a qual muitos defendem eleva aqueles que são tidos como superiores, os docentes, aos demais setores que compõem a instituição como se necessariamente por estarem inseridos naquele grupo fossem eles mais aptos, mais capazes de formularem as melhores opções e darem os melhores encaminhamentos a fim de definir os rumos da universidade. Em nossa análise tal premissa é insustentável. Pelo contrário, ao se estabelecer tal situação, produzimos uma casta de privilegiados, acabando por manter intacta no interior da universidade o modelo desigual de sociedade que em discurso é combatido por muitos de seus cientistas. A farsa de que haveria categorias mais aptas a gerir as questões mais relevantes da instituição serve apenas para que estes privilegiados mantenham seu poder e dessa forma encobre a verdade de que qualquer membro da comunidade universitária pode pensar e contribuir com suas formulações, independentemente da categoria a qual o mesmo esteja vinculado. Queremos privilegiar o debate político e não o “privilégio de alguns” em agir politicamente. Entendemos que as idéias que possam contribuir para a transformação efetiva da realidade existente podem e devem ser formuladas no cérebro de qualquer pessoa, independente da categoria em que esta pertença.

“O QUE HÁ POR TRÁS DA LUTA DO ACAMPAMENTO CAPAZ DE IMPOR TANTO MEDO AO REITOR E SEUS ASSECLAS AO PONTO DE LEVÁ-LOS A COMETER UM ATO TÃO VIL E COVARDE COMO ESSE?”

Para quem já acompanhava nossa trajetória política não é novidade perceber o quanto era incômodo, não apenas para a reitoria como também, para os diversos setores que compõe a comunidade acadêmica da UFF (incluso aí os setores ditos socialistas) conviver com a existência do AMJB e com a dinâmica por este estabelecida. E esse mal-estar se ampliou ainda, significativamente, após o processo de radicalização por nós promovido na Ocupação da REItoria de nossa universidade, cabe aqui resgatarmos o conteúdo de parte da análise do material de campanha da chapa “A eleição não muda nada!” que no ano passado concorreu às eleições do curso de história da UFF: “Na avaliação que fazemos o ME, a nível nacional, deu um salto qualitativo de singular importância, na medida em que saiu de uma situação reativa, na qual se contrapunha na base da resistência ao projeto neoliberal representado na contra-reforma universitária pautada, ao longo da atual década, pelos dois Governos de Lula da Silva, para uma situação de ofensiva, na qual os estudantes, deliberadamente, decidiram através de iniciativas de Ação Direta radicalizadas, Ocupar o principal espaço que vem, servilmente, desempenhando o papel de correia de transmissão das políticas privatizantes nas universidades, ou seja, as respectivas reitorias de tais instituições de ensino superior. Ao promover tal ato o conjunto dos estudantes em luta fez cair o véu que encobria a PSEUDO DEMOCRACIA que em tese existia no interior de tais instituições, obrigando os reitores das mais variadas universidades estaduais e federais a recorrerem ao último recurso para a manutenção da ordem desigual ora estabelecida: o chamamento do aparelho repressivo do Estado Burguês, ou seja, a polícia! Um dado de extrema importância e pouco percebido é que a maior parte das Ocupações não contaram com o apoio da principal entidade dos estudantes, ou seja, o DCE de suas respectivas universidades, sendo que em alguns casos tiveram até de enfrentar a oposição, velada ou explícita, da diretoria de tal entidade. Isso, no entanto, não esmoreceu a luta dos estudantes combativos nas Ocupações no Brasil a fora, mas, pelo contrário, permitiram-lhes ver o caráter mítico conferido pelas Correntes Estudantis Tradicionais (CET’s) a tais entidades que, muitas vezes, não representam os reais interesses da base estudantil de sua universidade ou curso não passando de uma instituição superestrutural longe do cotidiano de luta dos estudantes a quem deveriam servir.

Na UFF, o processo de Ocupação não foi menos controvertido uma vez que sem elementos para opor-se a mesma, os membros das CET’s optaram por a boicotarem não oferecendo apoio efetivo à sua manutenção e a invisibilizando nos demais espaços onde atuavam, mostrando assim, seu “verdadeiro” comprometimento com os processos de luta real.

Após seis meses sem respostas concretas sobre sua pauta de reivindicações e passando por um prelúdio de tensionamento político com setores que compõe a atual reitoria, o Movimento, constituído pelo Acampamento e GT de moradia do CAHIS entenderam que dada a conjuntura política local e nacional havia chegado a hora da radicalização cabendo aos demais setores rever sua lógica de boicote a esse importante movimento de luta. A reitoria foi completamente fechada na noite do dia 22 de outubro por apenas vinte e cinco estudantes e no dia 23, ou seja, a exatos seis meses de seu início, após dezenas de estudantes a ela se agregarem, a reitoria de Roberto Salles e Emannuel chamou a polícia para acabar com o que havia se transformado no seu principal inimigo político e de classe.”

Hoje tais afirmações são atestadas pelo que acabou de ocorrer com o Acampamento. Na época ficou acordado entre o conjunto do ME e a REItoria que em troca de nossa saída de maneira pacífica do espaço físico da mesma estes retirariam a ação de reintegração de posse movida contra o AMJB, todavia, como bem pode se ver em uma das últimas cenas do filme Edukators “Algumas pessoas nunca mudam” sendo tal máxima perfeita para definir o comportamento político da REItoria de Roberto Salles e Emmanuel. Não é todo dia que a polícia militar e a federal é acionada para reprimir as ações de um segmento do ME organizado e a REItoria sabia que não estávamos no marco da ordem burguesa e que, em sua análise, tornava impossível de nos deter em nossa luta. Cada segundo que conseguíamos sobreviver às adversidades impostas pelo fato de estarmos acampados por tanto tempo simbolizava uma derrota política e moral de Roberto Salles que, em um gesto de extremo desespero e covardia, promoveu um dos atos mais vis e covardes já empreendidos por uma REItoria em toda a sua história contra um movimento político organizado. Ao promover tal ação este esperava acabar com qualquer vestígio de nossa existência política mas o tiro, mas uma vez, saiu pela culatra e o último véu que pairava sobre sua gestão caiu. Não há mais nada que Roberto Salles possa usar para nos agredir e nós, pelo contrário, apenas nos preparamos para o que promete ser a última batalha entre nós e as forças arcaicas que ainda se encontram a frente de nossa instituição de ensino.

É de extrema importância que o ME esteja conosco em mais um enfrentamento que teremos com o nosso inimigo de classe. O que foi materializado contra o AMJB simboliza mais uma afronta ao conjunto do ME que não pode deixar passar em branco mais esse ataque da REItoria. Precisamos, de uma vez por todas, sepultar o espírito reformista que leva o ME da UFF a sempre declarar vitória a cada papel assinado pela caneta do REItor. Precisamos edificar uma prática completamente distinta no ME e o AMJB já demonstrou o caminho para a real vitória que é o do combate permanente aos nossos inimigos de classe e da ação coletiva, de base e direta pois, as transformações que queremos ver materializadas só serão alcançadas por intermédio da base e não de nenhuma dita “liderança” estudantil iluminada!

O que o ME da UFF pode extrair da experiência gerada pelo AMJB?

Ainda é prematuro para que saibamos ao certo quais as conseqüências, diretas e indiretas, da existência do AMJB na UFF mas isso não impede que façamos algumas análises acerca deste recente fenômeno de Luta Estudantil e Social.

A universidade é uma instituição social que, segundo o senso comum, agrega e coloca em prática muitos valores progressistas. O imaginário social credita a mesma o conjunto de formulações críticas das desigualdades sociais existentes sendo, segundo estes, uma defensora intransigente das transformações que venham no sentido da superação do conjunto de mazelas sociais existentes. Na prática, a realidade tem se mostrado bastante distinta, com a universidade, enquanto instituição, cada vez menos engajada nos processos de Luta dos oprimidos pelo capitalismo. Isto revela que a mesma não pode nunca ser analisada como se estivesse imune aos conflitos de interesses marcados pela luta de classes que em diferentes conjunturas assume características as mais diversificadas. A universidade, dentro de uma sociedade desigual como a nossa, reflete, necessariamente, as disputas existentes em seu interior, cabendo aos setores historicamente despossuídos ou simpáticos de um outro modelo de sociedade se organizarem internamente para, dentro e fora dela, pautar os interesses que negam o status quo tanto a nível interno quanto externo a tal instituição.

Neste sentido o Acampamento Maria Julia Braga contribuiu decisivamente para desnudar as contradições existentes no interior da UFF, levando a loucura os setores conservadores e reacionários existentes em tal instituição de ensino. Podemos observar, cotidianamente, como aqueles que no plano do discurso se dizem comprometidos com a transformação social são, na prática, os primeiros a defender a manutenção do estado desigual de coisas existentes. A esses dizemos: A guerra está apenas começando!

As quintas feiras libertárias, atividades musicais que permitiu o vínculo de estudantes e músicos fossem eles universitários ou não em clima de harmonia e descontração. Um dos belos momentos de uma história que está longe de acabar. A sociedade não conhecia a UFF e sim o AMJB!

Enquanto movimento organizado o AMJB contribuiu, decisivamente, para uma cultura libertária, de base e de ação direta no seio do ME da UFF, gerando muito mal estar a todas as correntes tradicionais que em muitos momentos tentaram contribuir para o fracasso de nossa causa política. Entendemos que a semente para um outro paradigma de Movimento Estudantil já foram plantadas e esperamos que o solo de nosso movimento seja fértil para que, em breve, possamos ter novas gerações efetivamente combativas e comprometidas com a transformação radical da realidade ainda existente. Até a vitória final! Acampamento Maria Julia Braga- O Quilombo do séc XXI!

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