terça-feira, 17 de junho de 2008

Propaganda pura

Extraído do site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao

Comento: Eu tenho essa entrevista em arquivo a algum tempo, mas só agora pude postá-la, infelizmente os trabalhos de final de período tem me ocupado demais.

10/12/2007 - 09h33
Estudante deve pagar por ensino superior público
Publicidade

FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo
A cobrança pelo ensino superior começou na China em 1997. No Brasil, a cobrança é vetada pela Constituição, que determina "gratuidade do ensino público". Boa parte da Academia defende este modelo, pois entende que é dever do poder público oferecer educação.
A cobrança de taxas faz parte das reformas que o governo chinês começou a implementar nos anos 90 para aumentar o número de estudantes no ensino superior. O país conseguiu elevar o percentual de jovens no ensino superior de 3,4% em 1991 para 26,4% quinze anos depois. No Brasil, o percentual está em 17,5%, segundo dados da Unesco (braço das Nações Unidas para a educação).
Outra mudança foi a expansão de cursos superiores de caráter mais profissionalizante, com duração entre 2 e 3 anos, que já representam quase a metade das matrículas. No Brasil, eles são menos de 1%.
A China busca melhorar também em qualidade, o que já aparece em rankings internacionais. No ranking do jornal britânico "The Times" há três universidades chinesas entre as 100 melhores do mundo. A de Pequim é a de maior destaque entre elas (36ª). A melhor brasileira é a USP (175ª).
Ma veio ao Brasil para participar de um seminário promovido pela Assembléia Legislativa de São Paulo, em parceria com professores da USP, com o objetivo de discutir políticas adotadas em outros países, para servirem de base para a proposição de possíveis novas leis. A pesquisadora concedeu a entrevista à Folha, em inglês, na semana passada.

Comento: Já se vê que logo na apresentação da reportagem se procura dar o tom da entrevista ao mostrar que a China tem universidades melhores, ou seja, eles estão no caminho certo e deveríamos imitá-los. Continua na entrevista.

FOLHA - Como a sra. analisa a atual situação do ensino superior chinês?
WAN-HUA MA - Após um forte crescimento nos últimos anos, o ensino superior tornou-se papel-chave no desenvolvimento da China, na produção de tecnologia e de capital humano. Para isso, alteramos o sistema, diversificando-o, pois não havia recursos para incluir todos os alunos em universidades de pesquisa. Estas são muito caras, precisam de laboratórios caros, por exemplo. Há também uma questão do mercado de trabalho. Não seria possível absorver todos esses alunos formados em ambiente extremamente acadêmico. O mercado de trabalho requer pessoas com diversos níveis de conhecimento. Para resolver um problema no computador, por exemplo, você não precisa de alguém com doutorado. Um técnico, formado em até três anos, estará muito bem capacitado. Também se economiza tempo e dinheiro dos estudantes [um curso de engenharia na China dura seis anos]. Para os países ricos, não faz tanta diferença você ter um doutor cuidando de problemas técnicos de um computador. Mas nós, países em desenvolvimento, não podemos seguir nessa direção, porque exige muito dinheiro. Claro que você pode ser um doutor, mas é preciso ter outras opções.

FOLHA - Como a expansão do ensino superior foi financiada?
MA - Em 1999, o governo estabeleceu que todas as universidades deveriam aumentar as vagas em 30%. Houve aumento de recursos do governo, mas insuficiente. Nosso investimento em educação é de apenas 2,7% do PIB [no Brasil, é de 4,7%]. Há uma forte pressão para que o governo aumente os recursos para o ensino superior.

FOLHA - O que a sra. acha da cobrança de taxas aos estudantes?
MA - Uma boa qualidade de ensino público beneficia o estudante. Claro que também é bom para a sociedade ter cidadãos bem formados, mas há benefícios privados para os alunos também. Eles conseguem bons empregos. Se você considerar esse benefício privado ao cidadão, ele então tem a responsabilidade de pagar pelo ensino. Na China, em geral, o estudante de universidade pública paga 20% dos custos do seu curso.

FOLHA - Foi difícil implementar esse sistema?
MA - Foi, mas fomos testando aos poucos, primeiro em um grupo pequeno de estudantes, por dois, três anos, no começo dos anos 90. Os resultados foram positivos. Os alunos passaram a estudar mais, porque viram o sacrifício que suas famílias fizeram para pagar. E os pais também ficaram contentes, porque os filhos passaram a estudar duro. Então, percebeu-se que o modelo funcionaria. Agora, todas as instituições cobram taxas. O custo ao aluno nas universidades públicas é o mesmo, 5.000 renminbi [moeda chinesa] ao ano [equivalente a R$ 1.200], que são pagos uma vez, em setembro. Parece pouco, mas os nossos salários são baixos, comparados com o de vocês do Brasil. O sistema causou um problema, porque há famílias que não podem pagar. Então foram criados programas de empréstimo, de bolsa-trabalho, entre outros. Mas o sistema ainda não é perfeito.

FOLHA - O ensino superior chinês prioriza alguma área?
MA - Estamos tentando construir universidades de classe mundial [de ponta], basicamente nas áreas científicas, como engenharia e ciência da computação. São áreas que têm grande impacto econômico.


FOLHA - Em quais pontos o Brasil pode seguir o modelo chinês?
MA - Não conheço tanto a situação brasileira. Mas, em geral, o conhecimento de outras línguas é importante, para se poder aproveitar a comunidade internacional [a China é o país que mais envia estudantes aos EUA]. Entender a língua de um outro país é um modo interessante de a pessoa entender como essa cultura funciona. Se você não sabe isso, não saberá como negociar com esse país.

FOLHA - Professores e pesquisadores na China têm total liberdade?
MA - Não vejo controle do governo. As pessoas sempre falam que não temos liberdade. Não sei o porquê disso.

Comento: Essas perguntas e as suas resposta já dão o tom de tudo. A representante do governo fala sobre as "maravilhas" de se descobrir a importância do dinheiro quando você tem que pagar a sua universidade e como esse fato é mais valorizado pelo estudante e sua família. Como alguém que teve que pagar o seu ensino médio posso dizer que é uma grande bobagem, mas o melhor mesmo é quando a representante responde que a prioridade é para as áreas que vão dar dinheiro, é o tipo de universidade que muitos querem para o Brasil,totalmente voltada para o mercado. Alguns vão dizer que esse modelo fez a China crescer, já ouvi dizer que fez com que 400 milhões de pessoas entrassem no mercado, o que não se conta o que acontece com as outras 900 milhões que vivem lá; esses com certeza é que estão pagando a conta deste crescimento, é esse o modelo que muitos querem para o Brasil. Quanto ao que foi respondido na última pergunta, acho que nem vale muito a pena comentar.

Nenhum comentário: