sábado, 27 de outubro de 2007

O governador e o aborto

Na semana passada o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, defendeu a legalização do aborto usando como argumento a diferença no índice de natalidade nos bairros de classe média e alto do Rio em relação às favelas e periferias; chegou a usar termos como "fábricas de marginais" ao se referir ao fato de que mulheres das áreas mais pobres têm uma quantidade de filhos muito maior do que as mulheres das áreas mais ricas. O que ele parece demonstrar com essa declaração é a típica mentalidade de que controlando a natalidade dos mais pobres será resolvido o problema da criminalidade. Um famoso jornalista, Reinaldo Azevedo, cujo posicionamento sobre assuntos como esse é bem conhecido, pois ele mesmo não o esconde, declarou uma vez em seu blog que "existem mais bandidos pobres porque existem mais pobres". Nenhum reparo na afirmação, mas a simples idéia de que essa situação possa ser resolvida a partir do quantitativo numérico é uma tentativa de reduzir o problema a um simplismo absurdo. Achar que é possível diminuir a criminalidade a partir da diminuição da natalidade dos pobres com uma política de legalização do aborto, como sugeriu o governador, é não entender todas as implicações que estão envolvidas na questão da criminalidade. Da minha parte, eu não tenho dúvida de que uma política de planejamento familiar nas áreas mais pobres é o melhor caminho para termos famílias com melhores condições de proporcionar um futuro melhor aos seus filhos, mas não é nada disso que o governador propôs na semana passada. Hoje, na versão on-line do jornal O Globo, ele deu uma amaciada no discurso, veja o trecho abaixo em azul

- Após defender o aborto como forma de reduzir a violência no país , o governador do Rio, Sérgio Cabral, disse que o caminho é a prevenção da gravidez com campanhas de educação e políticas de controle da natalidade. Ele disse que é pessoalmente contra a prática, mas voltou a defender o aborto. Para Cabral, o papel do Estado precisa mudar.

- É evidente que o serviço público de saúde do Brasil tem que oferecer essa opção à cidadã brasileira. Isso é um erro, uma covardia que a sociedade brasileira não discuta a sério esse tema, o da interrupção da gravidez indesejada - disse. E completou: - Eu não sou favorável ao aborto. Ninguém é favorável ao aborto. Nós temos que ser favorável ao direito da mulher, se ela optar por isso, interromper a gravidez.

Cabral levantou a polêmica sobre o aborto ao relacionar a legalização do aborto a uma forma de reduzir a violência, citando estudo americano da década de 70. Ele disse que o índice de natalidade nos bairros de classe média e alta do Rio possuem padrão "europeu", enquanto as periferias e favelas possuem níveis "africanos". ( O Globo - 27/10/2007 )

Agora ele coloca a questão dentro de uma política de saúde pública, quanto a sua declaração a respeito da diferença entre os índices de natalidade nas diferentes áreas do Rio de Janeiro, ele deveria primeiro tentar entender o porquê dessa diferença e quais as melhores maneiras de resolver o problema, em vez de sugerir o aborto como solução, coisa que óbviamente não é.

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