terça-feira, 7 de outubro de 2008

Amanhã é dia de piquete

Amanhã teremos um novo piquete no ICHF ( Instituto de Ciências Humanas e Filosofia ) aqui na UFF. Será mais um momento nesse processo de luta que se iniciou no dia 09 de setembro numa Assembléia de Estudantes do ICHF que aprovou um piquete na quinta-feira seguinte, como forma de se contrapor à decisão do Colegiado que se preparava para ratificar a aprovação do projeto de expansão do instituto sem que tivesse havido qualquer debate sobre o mesmo junto a comunidade do ICHF. Essa mesma reunião ia aprovar mais dois cursos: Antropologia e Segurança Pública, esse o mais polêmico de todos. O piquete foi feito e teve sucesso em mobilizar a comunidade do ICHF sobre o que estava acontecendo. O debate foi intenso, assim como as críticas, que devem ser ainda mais fortes nesse novo piquete de amanhã. O fato é que desde o último piquete foram feitas várias Assembléias Comunitárias e reuniões de Colegiado, mas a luta continua cada vez mais intensa, principalmente por conta da atuação de um grupo a quem denominamos ao longo do processo de Burocracia Estudantil. Segue abaixo um texto onde eu procuro dar uma breve definição do que seria essa Burocracia Estudantil e de como tem agido dentro do Movimento Estudantil como fator de freamento das lutas políticas mais contestadoras da ordem.

Entendo como Burocracia Estudantil toda e qualquer organização política que paute sua ação visando, fundamentalmente, a busca, reprodução ou manutenção de sua Organização a frente do Movimento Estudantil ( ME ) por meio da representatividade. A partir dessa concepção, reproduzem, sempre que conseguem se colocar a frente dos Diretórios, Centros Acadêmicos e/ou DCE’s, os mesmos paradigmas de atuação do que eu chamo de espaços institucionais burgueses.
Uma burocracia estudantil só se forma por meio da ocupação de cargos nos espaços institucionais dos locais onde atua. Seu tipo de militância não deixa espaço para qualquer luta política que não se paute na sua atuação junto aos espaços institucionais burgueses, o que no caso das universidades, não poderia ser melhor representado do que o seu Conselho Universitário ( CUV ). Por depender de espaços como este para manter a sua hegemonia no ME, a burocracia estudantil não pode deslegitimá-lo em prol da construção de espaços verdadeiramente democráticos. Com isso, essa mesma burocracia estudantil acaba opondo-se assim, a qualquer forma de luta política que vise se contrapor ao modelo de universidade atualmente existente.
A Burocracia Estudantil se apresenta de forma constante no ME (se organizam nacionalmente, estão no movimento secundarista, mantém relações, principalmente de ordem financeira, com sindicatos e parlamentares). Quando o movimento real não está forte, eles mantém com facilidade a hegemonia. No entanto, existem momentos em que o movimento cresce, e começa a se radicalizar. Em momentos como esse é que se costumam surgir propostas de contestação aos paradigmas da democracia liberal burguesa, eleições, representatividade, modelos hierárquicos de tomada de decisões, ou a preponderância do que eu chamo de direitos individuais absolutos sobre qualquer forma de ação política coletiva e radicalizada. Em situações como essa, a burocracia estudantil, até mesmo por conta dos seus paradigmas de funcionamento, acaba cumprindo o papel de frear o movimento.
É justamente a concepção desses grupos de movimento político que os levam a reconhecerem a necessidade de atuar nos espaços institucionais burgueses. Essa mesma concepção que os leva a transformar o que poderia ser um espaço classista, como DAs e DCEs, em cópias desses espaços institucionais, no que podemos chamar de parlamentarismo estudantil. É a mesma concepção que leva os representantes dessa mesma burocracia estudantil a se colocar contra qualquer movimentação política que busque horizontalizar os espaços de disputa, o que diminuiria seriamente a sua influência.
“A crise do movimento é a crise da direção”. A partir desse axioma trotkista temos a justificativa que fundamenta as ações dessa burocracia estudantil, e estamos falando daquela que se reivindica de esquerda, socialista, com projeto revolucionário de sociedade. A partir dessa argumentação, o movimento estudantil só atingiria os seus objetivos sendo dirigido por essa burocracia estudantil.
Espaços institucionais burgueses são táticos no discurso, mas tornam-se estratégicos na prática política cotidiana, diante da dependência que se estabelece entre a burocracia estudantil e esses mesmos espaços. Não existe burocracia estudantil sem espaço burocrático a ser defendido e legitimado pela mesma. A ausência de um movimento efetivo de luta política, sem um projeto que se contraponha a ordem liberal, burguesa e capitalista, só garante a hegemonia do espaço burocrático. O modelo representativo torna-se assim, a garantia do espaço burocrático a uma burocracia estudantil que não poderia sobreviver de outra forma.

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