terça-feira, 21 de outubro de 2008

Seminário e outra discussão sobre o piquete

Daqui a pouco vai começar o seminário que o Colegiado do ICHF (Instituto de Ciências Humanas e Filosofia) da UFF preparou para diminuir a tensão vivida nas semanas anteriores, com dois piquetes, várias Assembléias Comunitárias e intervenções nas reuniões de Colegiado, para contestar, não só o projeto de expansão, mas também a própria estrutura de poder dentro da universidade. Esse seminário é uma clara tentativa de disfarçar ao máximo a estrutura medieval de decisões que ainda impera no ICHF em particular e na universidade em geral. A firme discussão sobre a legitimidade do Colegiado decidir o destino do instituto por todos os que o integram levou a essa discussão, uma concessão mínima, mas que deve agradar a diversos setores do movimento estudantil que ainda se pauta em estrutura hierarquizadas e sistemas representativos de decisão, que não se sente preparada para tomar as rédeas de decisões que afetarão o seu futuro. A luta política que pessoas como eu levou adiante durante semanas e que agora parece dessembocar num seminário paritário e apenas indicativo foi por uma discussão séria a respeito da estrutura de poder dentro da universidade. Não tínhamos nenhuma ilusão de mudar essa estrutura da noite para o dia, até porque essa mudança tem que começar de dentro das pessoas e a grande maioria ainda não está preparada para isso, ou simplesmente não quer mudar coisa alguma em sua vida, muito menos na universidade ou na sociedade. Segue abaixo um texto que escrevi sobre o último piquete e que postei na lista dos estudantes de História da UFF. Foi uma resposta minha a muitas das críticas feitas ao piquete.



Resolvi escrever para rebater algumas coisas que me deixam muito irritado em algumas pessoas que usam argumentos contra o piquete sem entrar no mérito de qual paradigma estão se baseando para isso. O que mais me irrita é ver professores que se dizem marxistas, anarquistas ou socialistas libertários usarem termos como "antidemocrático", "autoritário" ou que o piquete está "restringindo o direito de ir e vir das pessoas". Eu gostaria que essas pessoas tivessem a coragem de dizer qual o parâmetro que usam para usar esses argumentos, mas isso seria complicado de fazer e depois voltar a posar de marxistas em festas, reuniões de partido, seminários, ou nas salas, onde vão falar sobre luta de classes ou sobre socialismo. Vamos colocar as coisas nos seus devidos lugares: o piquete é antidemocrático e autoritário? Bom, se partirmos do paradigma da democracia liberal burguesa, do estado democrático de direito e das regras institucionais vige ntes, sim, o piquete é antidemocrático e autoritário mesmo, assim como foram também todas as ocupações de reitoria desde o ano passado até agora, isso é claro, não impediu que muitos dos que criticam o piquete assinassem manifestos em favor da ocupação da USP por exemplo. Pelo paradigma da democracia liberal burguesa, do estado democrático de direito e das regras institucionais vigentes, o piquete vai contra o direito de ir e vir das pessoas, assim como as ocupações de fazenda pelos Sem-terra vai contra o direito de propriedade, muito mais importante, hoje em dia com um ar quase sagrado, que o direito de ir e vir. É claro que isso não impede muitos dos que criticaram o piquete como autoritário e antidemocrático de apoiar integralmente as ações do MST. Durante o piquet a professora Cecília veio me dizer que o nosso ato era antidemocrático e eu disse a ela que um ato político, principalmente em que se prevê algum tipo de enfrentamento, não tem que ser democrático, e não tem mesmo, ou será mais democrático fazer uma passeata de rua onde se irá atrapalhar a vida de centenas de passageiros e motoristas? Será mais democrático fazer uma greve no serviço público que poderá prejudicar milhares de pessoas, algumas delas muito dependentes destes serviços. Isso, no entanto, não impede muitas das pessoas que criticaram o piquete de apoiar esses atos. O que mais me irrita em boa parte das pessoas que criticam o piquete é a falta de coerência em usar esses argumentos liberais, indo de encontro ao que normalmente dizem acreditar em matéria de ideologia, ao que escrevem e as posições que costumam assumir quando não é o calo delas que aperta. Apoiar o MST pode, desde que façam suas ocupações de terra bem longe, apoiar a ocupação da USP tudo bem, desde que o direito de ir e vir e a constestação da autoridade fique dentro dos muros de lá.

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