quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Capital Cultural

Extraído do site: http://br.noticias.yahoo.com

FAMÍLIA É RESPONSÁVEL POR 70% DO DESEMPENHO ESCOLAR

O contexto familiar é responsável por 70% do desempenho escolar de um estudante, restando à escola e suas condições interferir, positiva ou negativamente, nos 30% restantes. A conclusão surgiu de uma revisão da literatura sobre desempenho escolar existente no Brasil realizada pela Fundação Itaú Social. O objetivo do trabalho foi orientar gestores a definir políticas públicas na área, tendo como base as evidências que aparecem nas pesquisas acadêmicas, esclarecendo resultados que, isolados, são muitas vezes conflitantes.

"Todas as pesquisas analisadas, nacionais e internacionais, mostram que a maior parte do desempenho escolar é explicada pelas características familiares do aluno. A educação é realmente um bem transmitido de geração para geração, tanto a boa quanto a má educação", explica Fabiana de Felício, responsável pelo estudo no Itaú Social e consultora do Ministério da Educação (MEC). "São fatores principais o nível de escolaridade do pai e da mãe, a renda familiar, o tipo de moradia e o acesso a bens culturais. Todo o resto acaba sendo derivado disso."

Segundo a pesquisadora, os levantamentos - feitos tendo como parâmetro os resultados em avaliações nacionais do MEC e os índices de aprovação e evasão - mostram que o aluno já chega à escola com diferenças que fazem com que ele tenha resultados maiores ou menores. Ou seja, sua condição e estrutura familiar já o colocam em vantagem ou desvantagem desde o início do ensino fundamental. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

COMENTO: Uma das primeiras leituras que me influenciaram de verdade na universidade foi a de um sociólogo francês chamado Pierre Bourdieu. Até hoje me lembro bem da enorme dificuldade que eu tive no meu primeiro contato com este autor. Hoje em dia eu sempre procuro ler algum texto de Bourdieu, pois este me ajudou a entender os vários aspectos das minhas dificuldade em lidar com autores com quem só vim travar contato na universidade. O seu conceito de "Capital Cultural" me ajudou a entender muitas dessas dificuldades e a superá-las. Essa reportagem deixa bem claro como o Capital Cultural de alguém é muito importante para superar as dificuldades de ser bem sucedido na universidade. Para pessoas que vem de uma origem proletária como eu, cujos pais não puderam me ajudar nas questões escolares, pois estes mal tinham completado o que hoje é chamado de Ensino Fundamental, travar conhecimeto com os textos de Bourdieu é fundamental para não se deixar levar por explicações simplistas e liberais sobre a incapacidade de alguns em lidar com as dificuldades escolares. A questão do "meritocracia" torna-se bem menos simplificada quando se percebe as enormes diferenças que separam os que tiveram a possibilidade de contar com todo um ambiente familiar que lhes permitiu acesso a bens culturais que só na universidade pessoas como eu puderam descobrir. Essa reportagem acaba confirmando as teorias desenvolvidas por Bourdieu desde os anos 1960, teorias que estavam marcadas pelo ambiente em que ele estava inserido, o contexto escolar francês, mas que podem nos ajudar também em nosso contexto escolar brasileiro do início do século XXI.

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