segunda-feira, 21 de julho de 2008

Monopólio da memória

Um dos maiores aprendizados que eu tive com a minha experiência com o ENEH foi entender a importância da preservação da memória em qualquer luta política. Essa preservação é fundamental para que a geração seguinte não começe uma luta política do zero, sem qualquer acúmulo gerado pelas lutas anteriores, seus erros, acertos, conquistas e perdas. Essa tem sido uma preocupação de todos nós que fazemos parte do Acampamento Maria Júlia Braga: O Quilombo do século XXI. Preservar a memória de nossa luta política é fundamental para que uma geração futura possa ter ela própria algo em que basear a sua própria luta. Possa entender o que aconteceu antes de sua entrada em cena e atuar a partir daí. Essa pequena introdução está ligada a um fato cujo conhecimento eu só me dei conta efetivamente em minha preparação do mini-curso que eu e meus companheiros de luta demos no ENEH. O nosso desejo de falar sobre o movimento estudantil e tocar no tema da sua memória, da maneira como essa é construída e como está a serviço de qualquer grupo que se dispõe a dar a sua versão dos fatos, me permitiu ter acesso a informações e textos muito importantes e que tem me gerado muitas reflexões. Uma dessas informações é sobre um projeto de memória do movimento estudantil que está sendo tocado em parceria com a UNE ( União Nacional dos Estudantes ) e a Fundação Roberto Marinho. Quem quizer saber tudo com mais detalhes deve ir no site , ali se pode ver toda a idéia por trás do projeto. De nossa parte nos interessou alguns pontos interessantes, como a campanha estimulando qualquer um que tenha algo que possa estar ligado a memória do movimento estudantil a doar esse material as duas instituições que estão tocando o projeto. A leitura do termo de doação, por exemplo, nos dá uma boa idéia do que está por trás do projeto, trata-se claramente de uma tentativa de monopolizar a memória de um processo histórico ao colocar sobre o controle absoluto da UNE e da REDE GLOBO tudo o que diz respeito à memória do movimento estudantil. Se alguém acha que estou me enredando em mais uma dessas "teorias da conspiração" é só ir no site que eu indiquei e ler os termos da doação que estão lá. Por isso mesmo é importante que as pessoas não se deixem levar por esse tipo de projeto. Estou dizendo que a UNE e a Fundação Roberto Marinho não tem o direito de realizar um projeto desse tipo? Obviamente que não. A memória de qualquer processo histórico está sujeita a qualquer tipo de interpretação, por qualquer pessoa ou grupo, o que não dá mais e ter que aceitar essa visão única de um processo histórico que insistem em nos dar. Não existe uma só memória do movimento estudantil, o acampamento tem a sua memória e com todas as suas dificuldades logísticas tem procurado construí-la. Seria bom que os outros grupos políticos que tem atuado no meio estudantil se disponham a construir a sua também, até para evitar essa tentativa da Globo e da UNE de monopolizar um processo histórico que pertence a todos.

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