quinta-feira, 18 de setembro de 2008

As universidades se movimentam

Estou publicando aqui o manifesto dos estudantes que estão acampados na UNIFESP já há um bom tempo e que representam uma forma de luta que vem se espalhando pelas universidades do país e que buscam não mais se pautar pela modelo burocrático que parte do movimento estuantil ainda se propõem a fazer. Essa busca de uma concepção de movimento estudantil que se constrói de baixo para cima e por fora da ordem ainda está no seu início e busca se afirmar, não só contra a própria ordem burguesa em si, mas também contra os representantes da burocracia estudantil. Hoje teremos na UFF uma Assembléia Comunitária no ICHF ( Instituto de Ciências Humanas e Filosofia ), pessoas como eu estão tentando transformá-la num embrião da futura Assembléia Comunitária da UFF, mas é uma luta dura, assim como está sendo a da UNIFESP, da UERJ e de várias outras universidades pelo Brasil afora.

MANIFESTO DO ACAMPAMENTO

Pelo governo tripartite com maioria estudantil

BOICOTAR A FARSA DAS ELEIÇÕES PARA NOVO REITOR!

A crise aberta na Unifesp atingiu seu ponto mais alto com a renúncia do ex-reitor, Ulysses Fagundes Neto, do vice-reitor, Sérgio Tufik, e de todos os pró-reitores da instituição, envolvidos direta ou indiretamente nos inúmeros escândalos de corrupção divulgados pela imprensa desde fevereiro deste ano. Somente com o cartão corporativo da reitoria foram gastos mais 75,5 mil reais em uma viagem à Disney, em Orlando, e na compra de artigos de luxo, cosméticos e materiais esportivos. Também foram denunciados desvios de verbas de mais de 178 milhões de reais do orçamento dos anos de 2005 e 2006, um caso de corrupção de 800 mil reais na pediatria quando Ulysses Neto era diretor do departamento e por fim, o uso de mais de 250 mil reais do dinheiro da universidade em viagens particulares do ex-reitor.

Para os estudantes da Unifesp que sofrem, assim como todos os estudantes das universidades do País, com a falta total de condições de ensino e permanência, os escândalos revelaram, de uma vez por todas, o verdadeiro funcionamento da universidade: uma minoria de professores titulares dirige a universidade para atender a benefícios particulares e de grupos capitalistas.

Por este motivo, após a queda do reitor corrupto a mesma burocracia que sempre compactuou com Ulysses tenta agora convocar uma eleição às pressas para, desta forma, esconder como funciona a estrutura de poder da universidade. A eleição é uma manobra da reitoria para tentar mudar um pouco, mas na verdade fazer as coisas permanecerem como estão.

A eleição para reitor, mais do qualquer outra eleição, é uma grande farsa. A comunidade acadêmica não tem qualquer poder de decisão e os candidatos são sempre os mesmos porque apenas os professores titulares e livre-docência podem se candidatar.

Em primeiro lugar, independente do resultado da votação os três mais votados (lista tríplice) terão seus nomes enviados para presidente da República , que pode simplesmente nomear qualquer um deles. O que existe de fato não é uma eleição, mas apenas uma consulta que serve para referendar a escolha do presidente, que é quem realmente tem o poder da decisão. Em segundo lugar, as eleições obedecem critérios semelhantes ao do Consu (Conselho Universitário) onde o voto de um professor vale mais que o voto de dezenas de estudantes, uma aberração antidemocrática.

Por isso os estudantes aprovaram em assembléia geral realizada dia 3 de setembro, em São Paulo, o boicote às eleições. É importante que fique claro que a comunidade universitária, principalmente os estudantes, não tem nenhum poder de escolha nestas eleições. Não adianta apenas mudar o reitor, é preciso modificar totalmente a estrutura de poder da universidade. Os candidatos que irão se apresentar, prometendo soluções milagrosas para a Unifesp disputarão apenas para saber quem será o próximo a usurpar a administração da universidade em beneficio próprio e dos grupos que representa. Boicotar as eleições é a única forma de luta contra a tentativa da reitoria em por panos quentes na crise e manter sua dominação da Unifesp em detrimento do interesse de todos, principalmente dos estudantes.
A crise das universidades é a crise de sua estrutura de poder. O Consu, principal órgão de decisão da universidade, está dominado por uma casta de professores titulares que estão a serviço de implantar a política de destruição do ensino promovida pelo Governo Federal, são pessoas ligadas a interesses de grandes grupos e políticos burgueses. O setor dos professores é a camada mais conservadora da universidade, sustentam um claro interesse pela administração da vida universitária, como o controle de verbas, disputa por cargos, etc. Entre eles os mais graduados tornam-se uma extensão da política defendida pelo Estado, uma política de destruição da universidade pública com cortes de verbas para educação. Esta política, como podemos observar na Unifesp, está sustentada em um grande esquema de corrupção.

A atual estrutura de poder exclui os estudantes de qualquer forma de decisão. O setor majoritário dentro da universidade possui apenas 15% de representantes dentro do Consu, contra 70% dos professores e 15% dos funcionários. Os estudantes representam o movimento transformador dentro da universidade; pois os nossos interesses são os mais atingidos pela política de destruição do ensino. A oposição do movimento estudantil à política de corte de verbas para limitar o acesso à cultura e o ensino promovido pelo Estado faz com que esta luta seja a representação da luta da sociedade que, excluída da universidade, almeja um acesso a uma universidade pública e de qualidade. O movimento estudantil é o movimento político do povo contra a política educacional do Governo!

Dentro da universidade somos a maioria e a razão essencial de sua existência. Foram os estudantes ao longo da história os principais a desafiar o poder ditatorial daqueles que dominavam a universidade. A universidade não nos dá apoio algum, pelo contrário, somos obrigados, muitas vezes a abandonar o curso ou nos formarmos em péssimas condições de ensino, acabamos sendo o setor menos comprometido com a burocracia universitária e a política de destruição da universidade promovida por ela.

Neste sentido, as propostas que tentam impedir que a maioria estudantil dirija a universidade são apenas uma forma atenuada de dominação dos professores, que no fundo é a dominação do Estado sobre a universidade. Uma vez que a universidade possui um número maior de estudantes do que o número dos demais setores é evidente que na prática a proporcionalidade levaria à maioria estudantil. Entretanto, se os estudantes são o setor menos ligado a burocracia e a estrutura de poder que atravancam o funcionamento democrático da universidade, é fundamental que o setor estudantil tenha a maior participação nas deliberações.

Convocamos todos os estudantes a derrubar a ditadura da minoria de professores titulares sobre a universidade. Ditadura, como demonstraram os escândalos de corrupção, a serviço dos interesses mais grosseiros e imorais, contra o ensino e a cultura, a favor da reação política e do obscurantismo mais atroz. Os estudantes devem lutar para conquistar o governo tripartite proporcional com maioria estudantil, pela autonomia universitária e para colocar a universidade a serviço dos interesses da população.

O teatro do absurdo é real,
mostra-se nas esquinas,
nos momentos, nos rostos pálidos,
nos esternos estrangeiros,
sem raízes, sombras do passado:
anos do progresso
"inocente" dos homens;
perdidos no tempo - extemporâneos,
sem sentido histórico
DESCATRACALIZAÇÃO do ESPAÇO PÚBLICO

Abaixo a autarquia, Abaixo a natureza autárquica do que é de domínio público: a Universidade Federal - gerida com recursos da união - só pode funcionar à orientação do que é público tendo autonomia; em direção do universo autônomo, gerida pelo popular e para o popular - para a sociedade, não pra o mercado capital. Maioria estudantil no setor administrativo e em todos mais! Estudantes não são mercadorias do sistema capital, devem ser nada mais que indivíduos membros da comunidade e da sociedade. Não são mercadorias do capital nem em função do mesmo, mas ao contrário: em função do popular, do público: não ao privado! Não a autarquia de natureza privada! Não representarão a estrutura autárquica que faz o sistema do capital-privado. Não deve haver um espaço público dividindo o mesmo espaço ao mesmo tempo e mesma mão de obra - do público - para interesses diferentes - público, privado. Uma pergunta: quem responde melhores os anseios da população? Estudantes, trabalhadores e professores. A autonomia da universidade existe na medida em que estes desconstroem o edifício de natureza autárquica das instituições privadas nos espaços públicos!

Inchaço acadêmico, de fato ocorre, quando se orienta em função dá quantidade, não da qualidade. Merece reflexão os números, também os discursos. Acelerar um crescimento meramente quantitativo, objetivado ao capital, em detrimento da qualidade, objetivo público, não é compromisso com a sociedade. Por isso, é nebulosa, a intenção oficial pela preferência de cursos noturnos. È obscuro tais números, não esta clara esta matemática do mercado, a lógica do capital. A elevação em demasia gera evasão em demasia...

Abaixo às instituições de natureza autárquica e privada do espaço público, de domínio do povo! Funcionar pelo popular, para o público, para a comunidade, para a sociedade, de forma autônoma, deve a universidade pública caminhar...

Universidade popular é universidade sem catracas, para anseios populares, livre acesso já! Descatracalização do espaço público; as instituições privadas impõem avaliações, burocracias, colocam catracas que fazem girar somente os números em benefício do estado acúmulo do capital que se utiliza não só do espaço público: mas de toda a mão de obra, exaure o Estado, ou melhor, o povo em função do mercado.

Precisa cair o patrimonialismo que suga os recursos da universidade pública, abaixo aos ídolos do mercado! Universidade autônoma é aquela gerida pela comunidade popular - estudante, trabalhadores, professores - para o popular! Somente aí, a universidade será pública e gratuita de verdade - para qualidade, não para quantidades numéricas muito obscuras para o patrimônio cultural humano, não para o capital mercantil.

A Unifesp para tornar-se verdadeiramente publica, gratuita e de qualidade, deve alcançar autonomia como instituição; autonomia intelectual; autonomia da gestão financeira - autodeterminação das políticas acadêmica, dos projetos, e metas das instituições, da condução administrativa, financeira e patrimonial. A autonomia de caráter público, democrático, para que exista, necessita que haja discussão dos orçamentos da universidade, pois esta não pode deixar-se determinar pelo capital financeiro externo. A universidade deve recuperar, o poder e a iniciativa de definir suas próprias linhas de pesquisa e prioridades. Não confundir expansão com massificação.

Por isso reivindicamos:

Dissolução do Consu

Fim da comissão de reforma do estatuto Convocação de um Congresso Estatuinte com representação proporcional dos setores (professores, funcionários e estudantes) com delegados eleitos de forma direta.

Pelo governo tripartite proporcional com maioria estudantil dos três setores.

Fim das eleições para reitor

Revogação da adesão da Unifesp ao REUNI

Abertura de processo criminal aos, responsáveis pela elaboração, publicação e distribuição do jornal "O Menisco", devido a conteúdo racista, de responsabilidade da Atlética medicina.

Fim dos processos de sindicância

Fim do Código de Ética

Fim das fundações privadas

Pela autonomia universitária, fim da intervenção do Estado na administração da universidade.

Restaurante Universitário nos campi de expansão

Transporte gratuito dos campi até os pontos centrais

Construção de moradia estudantil em todos os campi

Aumento e revisão do critério para aquisição de bolsa de auxílio estudantil

Fim dos cursos pagos

Fora a policia do campus

Fim das câmeras

Construção de centros esportivos nos campi

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